Ontem, a Superintendência Geral do Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (Cade) concedeu 30 dias para as empresas se defenderem. O
prazo pode ser estendido por mais um mês. Entre as companhias mencionadas estão
Conexus, Braskem, Carbocloro Oxypar, Bayer, Igarassu, Panamericana, Riocell e
seus distribuidores. Muitas outras são citadas pela SDE.
Essas companhias fabricam ou distribuem soda e cloro,
matérias-primas usadas nas indústrias de papel e celulose, alimentos, bebidas e
tratamento de água. O setor responde por 1% do Produto Interno Bruto (PIB),
segundo a SDE. "Indiretamente, a participação na economia é bem maior,
tendo-se em vista a grande diversidade de aplicações do cloro e da soda, bem
como de seus derivados."
Denúncia. A denúncia foi feita em abril de 2007 por Luis
Fernando Cardoso Resende. A SDE não identifica no processo a função de Resende.
Ele entregou ao governo documentos e gravações com supostos fornecedores que
comprovariam práticas lesivas à livre concorrência para as companhias de água e
saneamento do Nordeste.
O Departamento de Proteção e Defesa Econômica (DPDE) da
SDE ressaltou que o mercado é "sabidamente concentrado" e a entrada
nessa indústria é difícil. A SDE avaliou também que o setor tem "ausência
de aspectos concorrenciais", como diferenciais tecnológicos e marcas.
Além disso, considerou que não há produtos substitutos a
preços competitivos. "Com respeito à possibilidade de obtenção de
cloro-soda e derivados em mercado geograficamente distantes, essa é limitada
pelo elevado custo de logística." Por causa dos elevados custos de transporte,
o DPDE diz ser possível concluir que há atuação simultâneas em diferentes
mercados. "Isso facilita a colusão (conluio), sobretudo na forma de
acordos que visem à delimitação de mercados geográficos específicos para cada
empresa."
Sabesp e Petrobrás. Nos documentos da SDE, chamam atenção
relatos de casos envolvendo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo (Sabesp) e a Petrobrás. A Sabesp informou que apenas a Carbocloro ganhava
suas licitações desde 1994. "Ainda que outras empresas existissem e
tivessem sido contatadas e que o valor envolvido fosse alto, somente uma
empresa disputava o certame", relatou a Sabesp. Pelo documento, a
Controladoria-Geral da União (CGU) detectou que apenas Sasil e Hidromar
venderam cloro em cilindro à Petrobrás, de junho de 2006 a junho de 2007.
Paralelamente às investigações da SDE, o Ministério
Público de São Paulo e a Delegacia de Polícia de Santos averiguam o caso e
fizeram uma operação de busca e apreensão nos escritórios de empresas, na
Associação Brasileira de Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor) e no
Sindicato Nacional da Indústria de Álcalis (Sinalcalis).
Para o DPDE, há indícios de infração à ordem econômica,
em especial em relação à Abiclor.
O Estado entrou em contato com advogados citados no
Diário Oficial, mas não obteve retorno até o fechamento da edição. A Braskem
informou, por meio de sua assessoria, que o nome da indústria consta dos autos
de investigação do governo porque a empresa faz parte da Abiclor. De acordo com
a assessoria, todas as empresas associadas foram chamadas pelo Cade para
prestar informações.
CÉLIA FROUFE / BRASÍLIA
Fonte: Estadão, 20 de outubro de 2012.
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