Concessionária da rodovia Anhanguera será a primeira a
emitir debêntures de infraestrutura; papel promete remuneração maior que o
Tesouro Direto, mas tem riscos maiores
Na metade do mês, será apresentada aos investidores uma
nova categoria de aplicação em títulos de empresas, isentos de Imposto de
Renda. As debêntures incentivadas ou de infraestrutura chegam ao mercado com a
oferta da Concessionária do Sistema Anhanguera-Bandeirantes (Autoban) e
prometem rentabilidade acima dos títulos públicos. Em contrapartida, a
aplicação é de longo prazo e envolve riscos característicos do mercados de
títulos de empresas privadas e dos próprios projetos das companhias emissoras.
"Para proteger o poder de compra, será preciso ter
uma carteira mais diversificada. Será importante verificar quem é o emissor.
Nesta linha, a consultoria pode ajudar", diz o estrategista de gestão
patrimonial da Rio Bravo Investimentos, Beto Domenici. "As debêntures são
um mecanismo de financiamento de longo prazo importante para as empresas, mas
envolve um novo patamar de risco, até por serem dívidas longas", diz uma
fonte que não quis se identificar.
O professor de economia do Insper, Ricardo Rocha, aponta
diferenças significativas de risco neste tipo de investimento. "A
aplicação em debêntures é diferente de aplicar em Tesouro Direto, onde o risco
basicamente é de mercado, de avaliar se a taxa de juros ou de inflação pode
subir e você perder", afirma Rocha. Nesse tipo de título, que representa a
dívida da empresa com o investidor, deve haver sempre a preocupação com a
situação financeira da companhia. Ou seja, com o recebimento do dinheiro no
futuro.
Além disso, uma vez que o mercado de debêntures ainda
engatinha no Brasil, é necessário verificar a liquidez (facilidade de
negociação) que o papel terá após ser emitido. Para isso, o professor do Insper
recomenda verificar se a debênture terá formador de mercado - uma corretora ou
banco que se comprometa a colocar um determinado número de ofertas de compra e
venda do papel todos os dias. Assim, sempre haverá vendedores e compradores,
caso o investidor queira negociar sua aplicação.
A oferta
As debêntures incentivadas foram aprovadas neste ano como
uma alternativa para o governo incentivar a melhoria de infraestrutura para os
grandes eventos esportivos que ocorrerão no País (Copa do Mudo em 2014 e
Olimpíada em 2016). Somente nove projetos dos Ministérios dos Transportes e de
Minas e Energia já devem movimentar R$ 12 bilhões neste mercado.
A primeira leva de ofertas deve ser emitida em 15 de
outubro. O período de reserva para o investidor registrar sua intenção de
compra começou no dia 24 de setembro e vai até a próxima terça-feira, dia 9 de
outubro. O pedido deve ser feito em uma corretora ou banco participante da
oferta.
Para as pessoas físicas, a reserva pode ser feita pelo
valor entre R$ 3 mil e R$ 300 mil. A remuneração depende da série. A primeira,
que vence em setembro de 2017, tem remuneração de no máximo 109,20% do CDI. A
segunda série, que vence em outubro de 2017, será corrigida pelo IPCA mais juro
prefixado de até 0,25% acima do que é pago no título de inflação NTN-B com
vencimento em 15 de agosto de 2016, que hoje pagam pouco mais de 3% de
remuneração. As taxas serão definidas no processe de bookbuilding, em 10 de
outubro.
A empresa pretende captar R$ 950 milhões para projetos de
melhoria no fluxo na rodovia Anhanguera, que conforme o próprio prospecto da
oferta enfrenta congestionamentos no horários de pico. Entre as obras estão
previstas a implantação de pistas marginais e de faixas, construção de um
viaduto para a Avenida Mutinga, a remodelação do trevo entre Marginal Tietê e a
Via Anhanguera, entre outros.
"Acredito que haja uma preocupação da CVM de não
permitir que companhias muito pequenas e de grande risco coloquem oferta no
varejo, mas sempre deve ser lido o prospecto de risco, para verificar os riscos
inerentes ao projeto", diz Rocha. Os riscos nas obras podem variar da
emissão de uma licença ambiental a uma intervenção maior do governo. No caso da
rodovia Anhanguera, o prospecto cita que a empresa está exposta a riscos
relacionados ao volume de tráfego e receita de pedágios e de término antecipado
da concessão.
O especialista chama a atenção ainda para a questão dos
custos da oferta. Apesar de não haver corretagem para participar do rateio das
debêntures, em alguns casos pode ser cobrada a taxa de custódia. "Há
ofertas em que a custódia come todo o rendimento extra. O investidor precisa
fazer as contas", comenta. No caso da oferta da Autoban é informado que as
debêntures serão custodiadas na Cetip e/ou BM&FBovespa, mas não é dito o
valor. O prospecto está disponível no site da CVM.
Yolanda Fordelone, do Economia & Negócios
Fonte: Estadão: 04 de outubro de 2012
0 comentários:
Postar um comentário