O presidente da Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme, afirmou
que pelo menos US$ 30 bilhões em investimentos financeiros deixaram o País em
pouco mais de um ano, desde que o governo adotou a cobrança de IOF para
capitais estrangeiros com foco em aplicações em renda fixa, sobretudo nos
títulos públicos. "De US$ 30 bilhões a US$ 40 bilhões saíram do Brasil
nesse período em recursos de portfólio em renda fixa e variável e foram para
outros destinos, especialmente o México, onde há um marco tributário muito
estável, baixíssima tributação para o capital, regime cambial estável,
flutuante e previsível", destacou.
De acordo com Leme, o mundo está "repleto de
liquidez", pois os bancos centrais de nações avançadas "injetaram
quase US$ 10 trilhões nos últimos anos", para estimular suas respectivas
economias, e isso representa uma boa oportunidade de financiamento para o Brasil,
sobretudo em obras de infraestrutura. "Precisamos ter mais transparência,
previsibilidade e confiabilidade das regras do jogo, na área tributária, no
regime cambial e na questão regulatória. Ninguém gosta de surpresa e quer
calcular antes a taxa de retorno", comentou. "O Brasil tem uma agenda
de quase R$ 1,5 trilhão de projetos de infraestrutura e não tem poupança
interna. Mas vai ter que trabalhar para ter esses investimentos",
destacou.
Vitória com perdas. "Ao ter aumentado os impostos via
IOF na entrada do capital estrangeiro em certas modalidades, como também ter
elevado o câmbio de R$ 1,55 para 2,00, (o governo) alcançou uma vitória de
curto prazo, mas perdeu a batalha", comentou. "O regime de câmbio
fixo tem benefícios de curto prazo e grandes desafios de longo prazo, e se
torna insustentável, pois ou ocorre depreciação ou valorização do câmbio",
apontou.
Segundo ele, esse regime de câmbio traz consequências à
economia, pois quando o País precisa apreciar a moeda e não o faz, isso acaba
provocando inflação, o que é ruim para a estabilidade financeira.
Na avaliação de Paulo Leme, há uma boa dose de dúvidas por
parte de investidores internacionais sobre o funcionamento das debêntures de
longo prazo, títulos que não pagarão imposto de renda para quem desejar aportar
capitais em obras de longa maturação no País, como rodovias, ferrovias e
aeroportos.
"Eventualmente os projetos vão ocorrer porque são
espetaculares. O Brasil precisa de infraestrutura, mas ainda há muito trabalho
para que isso se materialize", apontou. Ele fez os comentários depois de
participar do 33º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, em São Paulo.
RICARDO LEOPOLDO
Fonte: - O Estado
de S.Paulo 27 de outubro de 2012.
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