Embora mais perto de um acordo em torno da reforma do
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), os governadores
ainda divergem sobre alguns pontos fundamentais. Os Estados do Sul e Sudeste
querem, por exemplo, reduzir a alíquota interestadual dos produtos originários
da Zona Franca de Manaus e do gás natural. Já os Estados do Norte, Nordeste e
Centro-Oeste concordam com a alíquota interestadual geral de 4%, mas querem
manter uma alíquota específica de 7%, que será aplicada somente nas operações
que fizerem com os Estados das outras duas regiões do país.
A proposta do governo, que é apoiada pelos Estados do Sul e
do Sudeste, prevê a unificação das atuais alíquotas interestaduais do ICMS de
12% e 7% em 4%, num prazo de oito anos. Com a alíquota de 4% não haverá margem
para a concessão de novos incentivos fiscais. Assim, ficaria mais fácil para os
Estados mais industrializados, que estão no Sul e Sudeste, aceitarem a chamada
convalidação dos atuais incentivos fiscais. Seria concedida remissão e anistia
aos incentivos fiscais e financeiros concedidos em desacordo com a Constituição
e estabelecido um prazo para a continuidade de fruição dos benefícios
validados.
Como a reforma do ICMS entraria em vigor a partir de janeiro
de 2014, os chamados incentivos fiscais comerciais terminariam no fim do
próximo ano. Os incentivos às indústrias e aos portos e aeroportos seriam
prorrogados, mas o benefício cairia ao longo do tempo com a redução da alíquota
interestadual. No caso dos benefícios industriais, o prazo de fruição iria até
2025 e, para os portos e aeroportos, até 2018, de acordo com a proposta do
governo.
Sul e Sudeste querem menor ICMS para gás e ZFM
Os governadores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste não
aceitam a unificação da alíquota, pois querem preservar um espaço para os
incentivos fiscais que já concederam. Mas já avançaram em direção ao acordo,
pois antes defendiam alíquotas de 7% e 2%. Agora, aceitam 7% e 4%.
A alíquota de 7% seria aplicada apenas nas suas operações
com os Estados das outras duas regiões, exceto o Espírito Santo. Se essa
proposta fosse aceita, eles poderiam cobrar efetivamente 2% de ICMS nos
produtos que saíssem de seus Estados e as empresas beneficiadas ficariam com um
crédito de 5%. Hoje, esse incentivo chega a 9%. Esses Estados querem também que
as mudanças sejam concluídas num prazo de dez anos.
Os Estados do Sul e do Sudeste não aceitam essa proposta,
pois ela implica custo elevado para eles. A perversidade da guerra fiscal
resulta do fato de que o Estado destinatário da mercadoria é quem paga o
crédito concedido pela outra unidade da federação.
O governo poderá até aceitar as alíquotas de 7% e de 4% em
um primeiro momento, desde que as duas alíquotas sejam unificada em um prazo
mais longo, de 16 anos, por exemplo, informou uma fonte oficial. O governo
entende que as atuais distorções do ICMS não serão eliminadas sem a unificação
das alíquotas interestaduais do tributo.
Os Estados do Sul e do Sudeste aceitam uma diferenciação
para a alíquota interestadual do ICMS aplicada aos produtos da Zona Franca de
Manaus e ao gás natural, mas consideram que é impossível mantê-la nos atuais
12%, em virtude da redução para 4% da alíquota interestadual das demais
operações. "Tratamento diferenciado é correto, mas não com tanta
diferença", disse uma fonte.
A proposta que fizeram foi que a atual alíquota de 12% seja reduzida
para 7% no prazo de seis anos. A redução do ICMS sobre o gás natural afetará a
arrecadação do Estado de Mato Grosso do Sul, por onde o gás boliviano ingressa
no país. Essa proposta dos Estados do Sul e do Sudeste terá um custo adicional
para a União, pois é ela que irá compensar as perdas de receitas dos Estados
com a reforma do ICMS.
O aumento dos recursos que serão destinados ao Fundo de
Desenvolvimento Regional (FDR) é outra reivindicação dos governadores do Norte,
Nordeste e Centro-Oeste. O governo anunciou que está disposto a transferir R$
172 bilhões aos Estados, ao longo de 16 anos. Os recursos do FDR seriam
primários (dotações orçamentárias) e financeiros (créditos), na proporção de
25% e 75%, respectivamente.
A partir de 2018, haveria uma transferência anual de R$ 12
bilhões (R$ 3 bilhões na forma de recursos orçamentários e R$ 9 bilhões em
financiamentos). Os governadores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste querem
aumentar as transferências anuais do FDR para R$ 20 bilhões, sendo R$ 15 bilhões
de recursos orçamentários e apenas R$ 5 bilhões de financiamentos. O governo
poderá elevar a quantia destinada ao FDR, admitiu uma fonte, se isso for
necessário para fechar um acordo. Mas descarta aumentar muito as dotações
orçamentárias, pois isso afetaria o resultado primário do governo federal.
Como sabe que existem poucas chances dos governadores
chegarem a um acordo em torno das mudanças, o governo decidiu encaminhar,
provavelmente na próxima semana, uma proposta de reforma do ICMS ao Congresso
Nacional, onde espera que as divergências possam ser resolvidas ao longo de
2013. As alíquotas interestaduais do ICMS serão definidas por resolução do
Senado. Por isso, o governo avalia, neste momento, se encaminha uma proposta de
resolução com as alíquotas ou se escolhe um senador da base aliada para que ele
apresente o projeto. Se esse for o caminho, o provável escolhido será o
presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Delcídio do Amaral
(PT-MS).
A presidente Dilma Rousseff assinará uma medida provisória
criando o Fundo de Compensação de Receitas e o Fundo de Desenvolvimento
Regional. A intenção do governo é encaminhar também um projeto de lei
complementar com as regras para a chamada convalidação dos incentivos fiscais.
O governo está convencido de que o principal motor da
reforma do ICMS é a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de editar uma
súmula vinculante, que derrubará imediatamente todos os incentivos fiscais já
concedidos sem aprovação prévia do Conselho Nacional de Política Fazendária
(Confaz). O temor dessa decisão é que levará os governadores a um acordo.
Ribamar Oliveira
Fonte: Valor Econômico
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